Calabar recebe o “1º Calaball de quebrada”, evento que celebra a cultura ballroom e periférica
A cultura ballroom, reverenciada pela cantora Madonna no show da sua última turnê, estará em evidência no 1º Calaball de quebrada, de 18 a 20 de julho, na biblioteca comunitária e na quadra esportiva do bairro do Calabar. Realizado pelo Coletivo Transicione, Unzo Kessimbi Amazi e Mojubá Produções, com apoio da União Geral dos Trabalhadores (UGT-BA), o evento será uma celebração aos corpos trans e à beleza da periferia, com oficinas, cursos e, ao final, um concurso que irá distribuir R$ 1250 em prêmios (R$ 250 em cada categoria)
Quem quiser participar do 1º Calaball de quebrada, é só ir, avisam os organizadores. Para os meninos e meninas que pensam em estrear na passarela e disputar os prêmios, vale seguir as redes sociais onde estão disponíveis a programação e os treinos de cada categoria: Face, Runway, Realness, Pagodão e Babyvogue. Nomes da cena local e nacional como DJ Lunna Montty vão fazer parte do corpo de jurados. O último dia contará com um pocket show de Yara Amara.
“Vamos trazer a comunidade ballroom pra dentro do Calabar pela primeira vez. A comunidade ballroom é feita por pessoas trans, pessoas pretas, afro-latinas, e nos Estados Unidos, quando surge nos anos 60 e 70, surge como um aquilombamento desses corpos que não tinham espaço nos bailes, desfiles, competições de beleza e artes em geral, através de Crystal Labeija, mulher trans e negra, fundadora desse movimento”, explica Luna Ventura, do Coletivo Transicione.
Para além da parte lúdica e festiva, o 1º Calaball também será lugar de formação e informação: estão previstos cursos e oficinas sobre temas como saúde, vulnerabilidade e trabalho. “Assim como eram as houses nos anos 90, que acolhiam trans e travestis, pessoas contaminadas com HIV, e existem ainda hoje em todo o Brasil, queremos mostrar as várias possibilidades de ser qualquer outra coisa além da rua, da marginalização: é poder se enxergar num mundo que não te aceita”, diz Luis Felipe Santos, ativista LGBT, também conhecido como Scorpion 007.
Estudante de Letras e pesquisador, Aladdin Andrade enfatiza a importância e a necessidade de se falar sobre questões de saúde. “A população trans tem dificuldade de acesso à saúde, quando não sofre transfobia; tem a questão da hormonização para as pessoas conseguirem sobreviver”, comenta. Ele é um exemplo de quem procurou o SUS para marcar uma consulta ginecológica, mas encontrou problemas porque seus documentos já estavam alterados.
Axé e Ballroom – O 1º Calaball de quebrada está diretamente ligado ao ativismo e simbolismo da mãe de santo Alana de Carvalho. Travesti, preta, zeladora do terreiro de angola Unzo Kessimbi Amazi, ela criou há 16 anos a Caminhada LGBTQIA+ do Calabar, preocupada com temas que vão além da diversidade e gênero, a exemplo de moradia, segurança, renda, cidadania e garantia de políticas públicas para essa população. Este ano, diz que o foco é falar das mulheres travestis e dos homens trans na terceira idade que estão sendo esquecidos.
“Nasci e cresci no Calabar. Sou moradora do bairro há mais de 43 anos. Ali é meu espaço de segurança e tenho medo de me mudar pra outro lugar. Transito numa comunidade que tem uma história dentro do maior centro de Salvador. Um quilombo urbano. A parada gay acontece em agosto há quatro anos, mês em que perdi minha mãe. Ela sempre esteve comigo, mesmo sem entender, construindo esse evento”, lembra.
“Mãe Alana pega pessoas trans, pessoas em vulnerabilidade, e coloca num lugar de familia. Ela é referência para nós. E quando ela chama a gente pra fazer a parada, entendemos que é pra saudar corpos trans em vida. Porque a gente sempre celebra corpos trans quando eles morrem, viram grandes mártires”, diz Luna Ventura ao lado de Aladdin Andrade. Juntos eles formam um casal trans. “Mãe Alana consegue fazer o acolhimento. No Calabar a parada gay acontece com segurança e tranquilidade para todas as pessoas, o que não ocorre em outros locais da cidade”, reconhece ele.
O Brasil registrou 145 assassinatos de pessoas trans em 2023, sendo que a maioria das vítimas era jovem, negra e pobre, de acordo com relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra). O documento mostrou mais uma vez que o Brasil é o pais que mais mata pessoas trans no mundo, pelo 15º ano consecutivo.
SERVIÇO
1º CALABALL DE QUEBRADA
18 DE JULHO
9h – Abertura e café da manhã – Fala Marcelo, Mãe Alana e Transicione
9h40 – Oficina – Vivência e historicidade ballroom: o que é ballroom, como ela se articula com Salvador (mediação de Roman the Knowledge)
11h20 – Treino da categoria Face (com Pietra 007)
12h50 – Almoço (Feijão de Tia Ruth)
14h – Roda de conversa sobre direitos da população LGBTQIAPN+ (Com Tiffany Conceição e Kaio Vasconcelos/Mediação de Alana de Carvalho e Luna Ventura)
15h40 – Treino da categoria Runway (com Raio Negro Montenegro)
17h10 – Oficina – Vivência e historicidade ballroom: Vogue e a relação com tecnologias culturais brasileiras como o pagodão baiano (mediação de Paulo Arth – House of Montenegro)
18h30 – Encerramento
19 DE JULHO
9h – Abertura e café da manhã
9h40 – Roda de conversa – Saúde da população trans (Com Alana de Carvalho e Aladdin Andrade)
11h20 – Roda de conversa – Prevenção e IST e papel da cisaliança na causa T (Com Scorpion 007 e Alana de Carvalho)
12h50 – Almoço (Quiabada de Tia Ruth)
14h – Oficina – Vivência e historicidade ballroom: a categoria de realidade e identidades ballroom (mediada por Mother Vicky Kiddo e intermediada por Aladdin Andrade)
15h40 – Treino – Vogue Femme Soft & Dramma (mediado por Kiyanna 007 e Maria Bunita)
18h30 – Encerramento
20 DE JULHO
19h – DJ SET
Por Tecnoplanta Rattura
20h – Show de Abertura
Pocket show com Yara Amara
20h45 – Entrada júri e Roll Call
Entrada das equipes, júri, houses e 007
21h20 – Calaball de quebrada
Início das categorias: Face, Runway, Realness, Pagodão, Baby Vogue OTA
23h30 – Encerramento e falas finais