Especialistas negros alertam para risco de divisão entre pretos e pardos no Brasil

Na terça-feira (13), data que marca os 137 anos da Abolição da Escravidão no Brasil, o debate sobre a luta antirracista ganha um novo e preocupante capítulo. Em vez de comemorações, o dia foi marcado por reflexões profundas sobre os desafios ainda enfrentados pelo povo negro, especialmente diante do que os especialistas classificam como tentativas de dividir o movimento racial no país.

O professor doutor Hélio Santos, referência nacional em estudos sobre racismo estrutural e impacto do pós-Abolição, uniu-se às pesquisadoras Carla Akotirene e Tainara Ferreira para denunciar o avanço de discursos que tentam excluir os pardos da identidade negra. Para o trio, essa narrativa representa um grave retrocesso na luta histórica contra o racismo.

“Desde o primeiro Censo, em 1872, pretos e pardos aparecem juntos. A mistura é parte da nossa história, construída com dor e resistência. Negar isso é desconhecer quem somos”, destacou Hélio, com tom de indignação.

A pesquisadora Carla Akotirene reforça que essa tentativa de dissociação fragiliza conquistas fundamentais, como as políticas públicas de igualdade racial. “O que está em jogo é um projeto de apagamento. Pretos e pardos sempre estiveram unidos na luta. Dividir é favorecer o racismo que sempre tentou nos calar”, afirmou.

Tainara Ferreira, consultora em gênero e raça, também chama atenção para o papel das redes sociais na propagação desses discursos. “Há um movimento crescente de desinformação, alimentando rivalidades internas que não existiam. Isso só fortalece os verdadeiros causadores das nossas dores”, disse.

Para os especialistas, a data da Abolição deve ser vista como um marco de resistência, e não de festa. Relembrar o 13 de maio é, sobretudo, reafirmar a necessidade de união entre pretos e pardos na luta por justiça social e racial. “O racha enfraquece a nossa força. Precisamos, mais do que nunca, caminhar juntos”, concluiu Hélio Santos.