
Maio Furta-Cor dá visibilidade à dor silenciosa das mulheres tentantes
Enquanto o Maio Furta-Cor convida à reflexão sobre a saúde mental materna, um grupo de mulheres segue lutando silenciosamente por acolhimento e reconhecimento: as tentantes — aquelas que sonham com a maternidade, mas ainda não conseguiram engravidar. Para a especialista e mentora de mulheres, Yalle Roseno, é urgente ampliar o olhar da campanha para incluir essas experiências marcadas por dor, silêncio e esperança.
Segundo a OMS, 1 em cada 6 pessoas no mundo enfrenta a infertilidade. Ainda assim, o assunto é cercado por tabus e pouca escuta, especialmente no sistema de saúde. “A dor da infertilidade não é só física ou médica. Ela adoece a mente, o coração, a autoestima. Ser tentante é acordar com esperança e dormir com medo”, afirma Yalle, que enfrentou oito anos de tentativas e duas FIVs até conseguir engravidar de sua filha, Laura.
Com base em sua trajetória, ela fundou o projeto Movimento Sempre Quis Ser Mãe, que acolhe outras mulheres em situação semelhante e promove informação sobre saúde emocional e fertilidade. Para ela, a maternidade começa antes da gestação e merece cuidado em todas as suas formas. “Essas mulheres já vivem a maternidade de forma profunda e dolorosa. Precisam ser vistas, acolhidas e amparadas emocionalmente.”
Yalle chama atenção também para a exclusão social que essas mulheres enfrentam: estão fora das campanhas tradicionais, dos rituais de celebração e até dos cuidados médicos mais humanizados. “Não estamos ‘esperando para ser mães’. Nós já estamos maternas. Só que com braços vazios e corações cheios.”
A proposta do Maio Furta-Cor, criada para acolher os diversos sentidos da maternidade, se alinha com essa visão. O movimento busca romper com modelos normativos e inclui em sua pauta mães atípicas, enlutadas, não-biológicas, solo, tentantes e outras vivências, sempre com foco na escuta e no cuidado com a saúde mental.
Dar voz às tentantes é reconhecer uma dor legítima, ainda invisibilizada, e transformar a forma como a sociedade enxerga os caminhos possíveis da maternidade.